Por Baixo Ribeiro
José Augusto Capela aprendeu a ser artista nas ruas de São Paulo e pelo seu lado mais escuro, através da autêntica pixação paulistana. Sua assinatura era “vicio pif dst” (algo como “vicious, pintores infratores ferroviários, destroy) e ele subia em prédios e lugares proibidos ou deteriorados para marcar a sua grife. Nesse ambiente Zezão acaba desenvolvendo uma caligrafia original, entortando suas letras de maneira muito pessoal.
Sua caligrafia de pixo vai se transformando em arte abstrata. As formas arredondadas de agora lembram letras, mas de uma língua desconhecida, surreal. Zezão faz seus flops apenas em lugares lúgubres ou extremamente deteriorados, escombros de prédios abandonados, becos embaixo de viadutos ocupados por mendigos ou em corredores do sistema de águas pluviais de São Paulo. Esse sistema transformou antigos rios da cidade em verdadeiros esgotos.
Seu trabalho toma uma dimensão político-social, pois o artista lida com os parias urbanos que habitam esse mundo e denuncia a existência de tal miséria, através das fotos que tira para documentar esse seu trabalho inacessível ao público comum.
Além da caligrafia fantástica, Zezão é também um pintor. Dono de uma técnica muito apurada com o spray, ele dá vida às imagens psicodélicas que povoavam seu mundo. Técnica desenvolvida “na raça”: como não tinha dinheiro para comprar tantas cores quanto gostaria de usar em suas pinturas, começou a pedir restos de latas de spray para os seus amigos. Com pouca tinta nas latas, mas com muitas cores disponíveis, Zezão cria suas multicoloridas “fumacinhas”.
A obra de Zezão está sendo escrita em letras rudes mas muito poéticas. Artista auto-didata, intuitivo, abstrato, Zezão leva o site-specific e a arte performática às últimas conseqüências. Muitos das questões fundamentais à arte contemporânea estão sendo discutidas nas instalações, fotografias e telas de Zezão.